Coordenadora: Tatiana Roque
Docentes Participantes: Antônio Augusto Videira, Gerard Grimberg, Gert Schubring

A partir dos anos 1960, foram reforçadas as discussões sobre a identidade da história da ciência, sobretudo a partir das questões suscitadas pelo livro de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científica, publicado em forma de livro em 1962. Para justificar sua visão de que a história de um domínio científico passa por diferentes mudanças de paradigma, Kuhn se apoiou na evolução das ciências físicas, mas sua crítica ao modelo continuísta logo se expandiu para a análise de outras áreas da ciência. Em busca do equilíbrio entre realizar uma análise não continuísta, sem cair na armadilha de estudar longos períodos por meio de concepções descontinuístas, a história da ciência passou a se concentrar em análises mais locais, como estudos de casos, de personagens e de documentos, para só depois investigar suas relações com o contexto mais amplo.

A partir da segunda metade do século XX, com os efeitos de duas guerras mundiais, muitos pensadores passaram a questionar o papel da ciência, se mostrando céticos em relação à crença, que parecia inabalável, no desenvolvimento técnico e científico, como um elemento fundamental para o progresso e o bem-estar da humanidade. Passou a se fazer uma distinção entre uma história dita internalista, que descreve os avanços científicos a partir de necessidades internas, e outra externalista, que se fortaleceu neste momento, colocando ênfase nos aspectos sociais e culturais que motivam o desenvolvimento da ciência. Os relatos históricos que tendem a enxergar uma evolução da ciência, a partir dos seus resultados, passaram a ser desqualificados como história Whig. Este termo foi cunhado pelo historiador britânico Herbert Butterfield em sua análise da história política do Reino Unido que, no século XVIII, assistiu à vitória dos Whigs, que defendiam a democracia contratualista, contra os Torys, mais conservadores. Mas a alcunha de Whig passou a ser usada para além deste contexto, com o fim de designar a história escrita pelos vencedores, ou seja, as tentativas de apresentar o presente como uma progressão inevitável que culmina com as formas atuais de organização social.

No campo da história da ciência, a história Whig vem sendo criticada desde as reformulações dos anos 1960 e 1970. As abordagens mais externalistas se multiplicaram a partir dos anos 1970, radicalizando-se em meados dos anos 1990. Neste momento, diversos cientistas, alguns deles ligados às ciências naturais, desencadearam um movimento público de contestação à história internalista da ciência e fundaram a sociologia da ciência, questionando até mesmo a objetividade dos objetos científicos. Obviamente, esta reformulação acabou por gerar certos exageros para o outro lado. Atualmente, a tendência majoritária enfatiza um maior equilíbrio, mas os pressupostos positivistas continuam em franco declínio no meio dos historiadores da ciência, em particular entre os historiadores da matemática e da física.

Um dos principais objetivos desta Linha de Pesquisa é incorporar as mudanças historiográficas na história da Matemática e da Física nos períodos escolhidos. Procuramos não perder de vista a análise dos aspectos sociais, mas enfatizando a especificidade do objeto de que tratamos. No caso, pretendemos nos concentrar em uma História da Matemática e da Física que leve em conta o desenvolvimento técnico das ferramentas e dos objetos destas disciplinas. Esta Linha de Pesquisa pretende contribuir e tornar acessível para o público brasileiro as novas discussões historiográficas envolvendo a História da Matemática e da Física, sem abrir mão de uma análise dos textos escritos pelos matemáticos e físicos do passado em todas as suas dimensões, incluindo de modo fundamental seu aspecto técnico e sua linguagem específica. Um aspecto particular dessa pesquisa envolve a discussão das relações entre história da ciência e filosofia da ciência nos últimos 20 anos, bem como os pressupostos metodológicos defendidos pelos Science Studies.

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